Tuesday 2 September 2008

Art & Text by Jackson Araujo




Tempo Condição Coelho

“É tarde, é tarde! Tão tarde até que arde! Ai, ai meu Deus! Alô e adeus! É tarde, é tarde é tarde!”.

Foi assim, falando das horas, que o Coelho Branco colocou Alice em contato com nossas alucinógenas fantasias. Como se chamasse atenção para a qualidade do sonho e a velocidade do tempo. No intervalo que compreende o sono, o desejo toma forma em brumas recortadas por laser, claras noites de neon, mágico écran hipervisual. Aeronaves e trens desenham o caminho até lá. Era noite, ficou dia, virou tarde, manhã... Foi como um mergulho na árvore, conexão entre céu e terra.

Cheguei em Tóquio e vi coelhos em Harajuku. Parecia um reino com seus quatrocentos bichos manifestando a própria fantasia do excesso. Coelhos como adolescentes, sem as desculpas da infância, em nome da sedução. Saltando de um lado para o outro, entre a perversão e a ingenuidade, eu vi na parede o Coelho Branco entrando no meio das pernas de Alice e uma menina linda dobrando milimetricamente cetins e papéis de seda.

Com múltiplas anáguas, calçolas rendadas, meias de listras, corsets, sapatos-boneca, cartolas, caveiras e sombrinhas de renda, as adoradoras do Coelho Pirata anunciam idéias de abundância e exuberância, vírus de desperdício e luxúria – forças naturalmente ativas na infância, uma idade que não quer mais passar. Pelo fone branco, Scarlett recorta o minimalista compasso dos trilhos e o silencioso balbuciar das palavras, “I don’t wanna grow up...”

Entre sorrisos gentis, vislumbro: Tóquio é Coelho.

Jackson Araujo, Setembro 2008

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